Etec(H)étero

Por Valdez Gomes

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Repórter:

– E porque você resolveu falar agora?

Entrevistado:

– Por que vi a repercussão da entrevista de meu amigo, Paulo Bicudo, e achei que também deveria vir a público contar um pouco da minha história. Até para que ninguém saia com a imagem arranhada depois de tudo o que ele falou. Não que sejam inverdades, mas têm coisas ali que precisam ser bem definidas para que não haja interpretação equivocada.

– Começamos a gravar quando você estiver pronto.

– Eu já nasci pronto, filha. Ainda não estão gravando?

– Ok, então vamos lá. Gravando!

– Num dado momento da entrevista do Bicudo – ele ganhou esse apelido no vestiário, logo depois de voltar da França, misturando os sotaques e fazendo caras e bicos tentando me ensinar o pouco que sabia – ele cita uma passagem que foi crucial para levarmos o título Paulista daquele ano. A discussão que ele teve com o “Pastor” não dividiu o vestiário ao meio. Na verdade, rachou em três partes de tamanhos diferentes: de um lado o “Pastor” e seu rebanho, incluindo o tal membro da comissão técnica que protagonizou aquele escândalo; no meio ficaram o técnico e sua equipe e de outro, estávamos Bicudo, Moysés e eu.

Tínhamos o grupo dos “Escolhidos”, os “Alheios” e nós, os “Dissidentes”, formado por um herege, um macumbeiro e eu, o gay infiltrado.

Desconcertada, a repórter faz um sinal de pausa, interrompe a gravação e indaga:

– O senhor tem certeza de que quer se expor dessa forma?

– Menina, eu já passei muito tempo enclausurado dentro desse armário, esse cheiro de mofo está me matando. Vamos em frente!

Prosseguindo…

E é sobre isso que eu queria falar. Sobre a minha condição de homossexual no universo machista do futebol. Tem ideia do quanto eu sofri por não poder ser quem eu era? Ali, naquele mundinho fechado, você pode ser ladrão, drogado, alcoólatra, adúltero, corrupto… tudo é aceito, qualquer desses “delitos” têm perdão. Agora, experimente se declarar gay. Sua carreira acabaria em dois tempos. Assumir sua orientação sexual diferente do “permitido” era assinar sua aposentadoria compulsória.

– Você temia por represálias?

– Querida, temia por tudo! Minha carreira, família, amizades construídas nos vestiários, patrocínio… todos sabiam, mas ninguém tocava no assunto, era quase um dogma. Eles fingiam que não sabiam e eu que passava despercebido.

Atualmente as coisas estão diferentes. Sou do tempo em que perfume para homens era o “Avanço” e o slogan era, “você usa Avanço e elas avançam!”. Nos dias de hoje tem até marca de cosméticos, que antes não se posicionava, propagandeando que o lance é aceitar as diferenças e todas as formas de amor. Loja de magazine estimulando que se experimente de tudo, que seja livre. No meu tempo, o legal era ouvir o sambista cantando que iria “quebrar cinco dentes e quatro costelas” de sua amada. Outro dia um amigo me mostrou um samba de um garoto lá do Rio que fala em “tanto faz se é ele com ele ou sem ele, ou se ela com ela”.

Quem me dera tivesse, naquela época, esse pessoal para ajudar a levantar minha “pesada” bandeira colorida… Quantas vezes fui a festinhas de jogadores, regadas a bebidas e mulheres nuas. Perdi a conta do número de desculpas que tive que inventar para evitar tantas outras.

Por sorte, encontrei uma pessoa amiga dentro do vestiário, o Bicudo, que me livrou de várias enrascadas; ele sabia da minha opção, mas sempre me respeitou.

– Passou por algum constrangimento por conta de sua sexualidade?

– Sim. Certa vez, criou-se uma celeuma, ou como dizem os meus, um bafão, por minha causa. Um jogador cismou que eu estava olhando para ele na hora do banho. Francamente! Se ainda fosse um bofe bonito, mas aquilo?! O fato é que rolou um motim e alguns jogadores bateram o pé e disseram que só entrariam em campo se eu não usasse o mesmo vestiário que eles.  Pra variar, Bicudo saiu em minha defesa e Moysés fez coro. O clima ficou quente. O técnico, que não era bobo, tratou de por panos quentes, afinal, era eu quem fazia os gols para o time e os dirigentes não ia ficar nada satisfeitos se soubessem da minha barração. Afinal, investiram uma boa grana na minha contratação e no contrato não havia cláusula que proibisse meus instintos de escolher A ou B para me relacionar. Conclusão: tiveram que me engolir.

Aí eu vejo hoje em dia a galera LGBT reclamando de direitos iguais… não que eles não tenham razão, no entanto, experimente ser gay dentro do futebol. Muitos jogadores ainda sofrem com isso. Ou você acha que não há jogadores de futebol gays?

Eu te digo, existem e não são poucos, mas, por prudência, não se revelam. Um dia, quem sabe, não saem também desse armário escuro?

Mas as coisas estão começando a mudar. Bandeiras e fronts de batalhas estão sendo erguidos na luta contra o preconceito – aqui fora. Dentro das quatro linhas ainda vale a máxima que meu pai sempre proferiu: “Futebol é pra homem! ”

 

 

 

 

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Guerrero Artilheiro?

Por Victor Mesquita

Dar a Paolo Guerrero a alcunha de artilheiro nato demonstra falta de conhecimento da trajetória do jogador. E a contratação por parte do rubro-negro carioca tem se mostrado um tremendo equívoco.

Chegando ao Corinthians em 2012, Paolo Guerrero era, para muitos, como o caviar de Zeca Pagodinho: “nunca vi, nem comi, só ouço falar”. Ouvir falar era quase inimaginável, já que, apesar de ter vestido camisas como as de Bayern e Hamburgo, o atacante era só mais um sul-americano na multidão.

Os bons números em sua temporada de estreia foram abençoados por um algo mais, o título do Mundial de Clubes, onde, inclusive, marcou os 2 únicos – e decisivos – gols do Corinthians, caindo assim nas graças da Fiel Torcida.

Sendo intocável nos 10 da linha, Guerrero, apesar de importante para o elenco, não manteve altas médias de gols nos 2 anos seguintes: em 2013 foram 0,39 gols por jogo, enquanto em 2014 foram 0,36.

Em 2015, mesmo com a surpreendente saída do clube paulista, conseguiu, até maio, com 18 jogos disputados, anotar sua melhor média de gols até então, após marcar 11 tentos.

Em junho, vindo de uma excelente Copa América, onde foi artilheiro com 4 gols – levando o Peru ao 3º lugar da competição – chegou à Gávea com status de matador. Parecia ser a solução que o Flamengo buscava desde a saída de Hernane “Brocador”, jogador que em 2013 havia marcado surpreendentes 36 gols em 58 jogos, mas que, na temporada seguinte, não repetia seu excelente rendimento.

Pelo Flamengo Paolo fechou o ano de 2015 disputando as mesmas 18 partidas que até então havia feito com a camisa do Corinthians, todavia, com um grande diferencial: ao invés de 11, foram apenas 5 gols marcados.

A calorosa sequência inicial de 3 gols em 3 jogos, onde parecia sentir-se à vontade no elenco, não impediu uma queda brusca de desempenho, levando-o a uma seca de gols e gerando um certo desconforto no torcedor rubro-negro que, assim como sua diretoria, havia depositado muitas fichas em seu sucesso.

Da primeira temporada até os dias de hoje Guerrero disputou 21 jogos, marcando 9 gols – média de 0,43 gols.

Média de Gols

Ainda que os números apontem algo positivo, seu baixo (des)empenho em campo contrasta com seu alto salário e faz com que o torcedor fique louco na arquibancada. E não, não é “o bando de loucos”, e sim os “loucos de raiva”!

Como diz o eco das arquibancadas “nós queremos respeito e comprometimento”.

Resta a esperança de dias melhores, ou que apareça um chinês na Gávea com papel, caneta e uma mala de dinheiro, amenizando assim o prejuízo que vem sendo acumulado.

Não que Guerrero seja o único culpado pelo fiasco que o Flamengo vem apresentando na atual temporada, mas a paciência está acabando e com ela também está indo o amor. E quando o amor acaba isso aqui vira um inferno!

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Ascensão e Queda

Por Davi Miranda

 

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O mundo já viu os mais incríveis impérios surgirem: alguns, como o egípcio, duraram milênios; outros, não chegaram tão longe, mas conseguiram deixar profundas pegadas na história. Invariavelmente, todos ruíram. E com o Brasil a regra se confirma.

Subjugamos o mundo por quase cinquenta anos. De 1958 a 2002 demos as cartas: ganhamos cinco Copas do Mundo, Pelé se fez rei e essa terra pariu mais craques do que nossos times eram capazes de acomodar. Fizemos escola, ditamos o ritmo do jogo e nos tornamos marca tão forte que, Brasil lembrava futebol e futebol lembrava Brasil. Redesenhamos a invenção dos ingleses.

No esporte, lugar de disputa constante, as forças se rearranjam e tanto o sucesso quanto o fracasso, substantivos inquietos, alternam-se constantemente. Agora estamos na parte de baixo da gangorra. Os holofotes voltaram-se para outros lugares onde as poucas fotos, em vez de gloriosas, têm revelado apenas vexames.

Nossos times, mesmo com investimentos vultosos, não conseguem transformar centros de treinamento, estádios novos e caras contratações em bom futebol. Poucas são as partidas dos nossos campeonatos que não são arrastadas ou modorrentas, em contraste com o vistoso futebol jogado nos grandes centros europeus.

Na tarde do último 2 de abril assisti à brilhante vitória do Real Madrid sobre o Barcelona, no Camp Nou. Logo depois sintonizei no clássico carioca entre Botafogo e Flamengo. Na Catalunha, desfile de craques; em Juiz de Fora, show de horrores. Lá, um 2 a 1 de encher os olhos; aqui, um 2 a 2 para se esquecer. Pareciam esportes diferentes. Até mesmo uma partida entre os inexpressivos franceses Nantes e Lorientes é mais bonita de se ver.

Se parece desigual comparar o futebol europeu com o brasileiro, vamos olhar para o lado, tratemos das Américas. Tomando como base os jogos da Libertadores, nos últimos anos os times brasileiros têm sido deixados para trás por equatorianos, mexicanos, bolivianos e até paraguaios. Centros de menor expressão vêm nos colocando de joelhos, não só nos vencendo, mas apresentando um futebol mais organizado e vistoso. E a maioria dos investimentos não está lá, mas aqui. Os ricos somos nós, os eficientes, eles.

Tentando emular o sucesso de nossos vizinhos, cada vez mais contratamos jogadores sul-americanos. Só na Série A deste ano temos 53 jogadores estrangeiros. E os técnicos também começaram a aportar: com a chegada do português Paulo Bento já são 3. Para quem sempre se vangloriou de exportar craques é no mínimo estranho.

As confederações não se mostram interessadas em mudanças, pois, do jeito que está seus caciques continuarão bem servidos. E na outra ponta estão os presidentes dos clubes,  que em público afirmam ser contra tudo isso que está aí, mas, quando nos bastidores são incapazes de trabalhar juntos: basta o tilintar de algumas moedas para rasgarem qualquer discurso de unidade.

O povo, que não é bobo, distanciou-se da seleção e agora começa a se afastar dos clubes também. As médias de público, há muito claudicantes, chegaram a níveis risíveis: ontem, em Volta Redonda, pouco mais de 2800 pessoas pagaram para assistir a Botafogo e Fluminense pela principal competição do país – algo inadmissível para um clássico tão grande.

Os contratos de transmissão foram renovados com polpudos aumentos faz pouco tempo, mas, provavelmente, serão os próximos a minguarem. A matemática é simples: quanto menor o interesse das pessoas, menos os patrocinadores se dispõem a pagar. Quem quer ver jogos ruins?

O pior não foram nossos erros nas últimas décadas, mas não aprendermos nada com eles. Os europeus são bem sucedidos por serem europeus, ora bolas; os sul-americanos, que têm vencido ultimamente, puro fogo de palha; e nós, nós somos o único país com 5 campeonatos, e isso, por si só, é suficiente para nos trazer outros 5.

Muitos impérios, quando em ruínas, continuam agarrados aos velhos hábitos em vez de reformarem suas estruturas. Dão de ombros às mudanças que acontecem além das fronteiras e preocupam-se, sobremaneira, em manter as aparências. Eternamente embriagados pelas conquistas do passado recusam-se a rever seus conceitos, até que um dia a realidade desabe sobre suas cabeças.

 

 

 

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O Escolhido

Por Valdez Gomes

 

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 Essa história se passou nos anos 90. Para preservar a identidade dos envolvidos, vou me abster de alguns detalhes. Nada que vá mudar o curso da história do futebol brasileiro, mas que certamente vai inquietar as mentes curiosas de jornalistas e torcedores…

– Já tá gravando?

– Ainda não…

– Então senta e dá o REC, pois eu tenho história!

Como todos sabem, quando fui jogar na Europa, já não era tão jovem assim. Na minha época, sair do país não era tão fácil como nos dias de hoje. Naquele tempo, a gente só saía quando o clube, que detinha nosso passe, achava interessante para ele. Não havia tanta mídia e divulgação, para despertar o interesse dos gringos, era preciso fazer chover aqui no Brasil.

Pois bem, da minha terra, Cuiabá até os pés da Torre Eiffel, rodei bastante. Conheci gente de toda espécie, cultura, religião, costumes e idiomas… Custei a entender o tal primeiro mundo. Mas com o passar dos anos, me habituei com os diversos povos e hábitos que transitavam por esse mundão.

Aprendi um pouco de alguns idiomas, conheci a culinária de vários países, da Escandinava ao tempero Mediterrâneo. Das crenças africanas até o Corão, passeei por algumas religiões e não me fixei em nenhuma delas.

Eu havia me tornado um “cidadão do mundo” ou como dizem hoje, um cosmopolita.

Então, depois desses anos em terras estrangeiras, resolvi que estava na hora de voltar. A proposta do Palmeiras chegava em boa hora. Aceitei, fiz as malas e “au revoir”, adeus velho mundo!

Minha chegada foi discreta, minha passagem pelo gramado do Palestra, não.

Nos primeiros treinos, fazia meu trabalho, como sempre fiz. Dentro de campo, conquistei minha titularidade na zaga alviverde, já no vestiário as coisas não caminhavam tão bem assim. Questionador e impulsivo, criei alguns problemas para um sujeito que aqui vou chamar de ‘Pastor”. Era ele quem reunia a rapaziada para a roda de oração.

Nos seus discursos mais fervorosos, dizia que Deus estava conosco e nosso rival, a quem ele definia como inimigo, era do lado negro da força. Nós sempre éramos os escolhidos do “Nosso Senhor Jesus Cristo”, os outros, satanistas, maçons, e afilhados de “Zés e Marias”.

Aquilo pra mim não fazia o menor sentido. Que diabo de lavagem cerebral era aquela?!

Foi então, que minutos antes de um jogo contra o Santos, o interpelei. Bem no meio daquela roda de marmanjos abraçados, ajoelhados e de olhos fechados.

Dizia o Pastor:

“Nesse grupo, somos todos homens tementes a Deus! Aqui, só há um salvador. Aqui não adoramos imagens. Lá do outro lado, a coisa já começa errada pelo nome do time deles. Todos sabemos que não devemos acreditar em Santos.”

 Nessa hora soltei uma gargalhada, pois pra mim, aquilo soou como piada de programa humorístico. Então, ele ergueu as sobrancelhas e firme perguntou:

– Quem é o engraçadinho?!

Com a fineza, que aprendi pelo mundo, me apresentei e coloquei minha opinião. Já estava de saco cheio desse “nós somos os escolhidos”.

– Pastor, quem disse a você que Deus está conosco e não com eles? Quem disse a você que todos nós cremos no seu Deus? E se eu disser que sou de Umbanda ou convertido ao Islamismo, serei menos abençoado que você? E mais, se eu não tiver crença nenhuma, se for ateu, vamos perder o jogo de hoje?

Nessa hora, técnico segurou o riso, baixou a cabeça e deixou que o pau quebrasse.

Algumas ovelhas se juntaram e formaram o rebanho em volta de seu pastor, outros, reticentes, ficaram ali, fazendo cara de paisagem, enquanto que dois deles discretamente se puseram do meu lado. Um deles era do Candomblé e o outro, embora negasse, era evidente a sua orientação sexual diferenciada.

Entre gritos de herege e satanista, o presidente entrou no vestiário e interviu na acalorada discussão ecumênica. Apaziguados os ânimos, fomos para o jogo sem dar palavra. O Pastor, que era meu companheiro de zaga, jogou como sempre, viril, beirando a brutalidade. E eu que não era de ir ao ataque, motivado pela alta temperatura do vestuário, me arrisquei e fiz o único gol da partida.

Veja só, o Herege foi o escolhido daquela tarde fria de São Paulo!

Nos jogos seguintes, o vestiário já não tinha aquele clima de “Aleluia, irmão!” Agora os cultos eram ministrados no quarto do hotel onde concentrávamos. Graças aos Santos!

Depois daquele jogo, passei a ser mais eu. Me vestia como sempre fiz na Europa, lia meus livros sobre esoterismo, viajava nas mensagens das letras de Bob Marley…

O vestiário estava rachado, mas em campo, o time não perdia uma dividida. Batíamos todos os adversários e chegamos à grande final.

Foi então que na manhã da véspera do grande jogo contra o Corinthians, uma bomba explodiu na imprensa. Um jogador do Palmeiras havia se envolvido num escândalo daqueles. Num famoso motel da zona Leste de São Paulo, surtado no pó e uísque, o cara meteu a porrada no travesti que ele havia contratado. Destruiu a luxuosa suíte. Espelhos, louças, banheira, não havia sobrado nada.

Rapidamente a imprensa, em polvorosa, se plantou na porta do motel à espera daquele clique comprometedor. No quarto em destroços, estavam o jogador – mais calmo-, seu empresário, o advogado, o diretor de futebol do Palmeiras, o gerente do motel e a pobre e indefesa Rayanny Love.

Ali, naquelas longas horas discutiam uma saída para o problema criado. Às nove e meia meu telefone toca, era o Dirigente do Palmeiras na linha. Disse para que eu não saísse na rua e que mandaria um carro me buscar dentro da garagem da minha casa. O Dirigente era meu amigo, então, mesmo sem entender, fiz o que me pediu. Não pus o nariz na janela. Uma hora depois, um carro todo preto buzina na minha porta. Abri o portão automático para que ele entrasse e embarquei numa viagem rumo ao desconhecido.

O motorista não disse palavra e nos guiou até a zona Leste. Entramos no tal motel e estacionamos num lugar reservado para carga e descarga. Levado ao quarto, ainda sem acreditar que estava ali, abro a porta e me deparo com aquele cenário de pós-guerra.

Eu podia ouvir um choro copioso e abafado, vindo do banheiro. Ainda não tinha ideia do que fazia ali e nem quem havia feito tudo aquilo.

Do banheiro saiu o Pastor, mas não era ele quem chorava e sim um membro da comissão técnica, que nas horas vagas curtia o lado B da vida de homem casado e fiel aos princípios cristãos. O Pastor se aproximou, e encarecidamente pediu que eu os ajudasse.

Mediante uma boa quantia oferecida ao gerente, a travesti e outra a mim, saí pela porta dos fundos e convoquei a coletiva de imprensa onde assumi a bronca do “temente à Deus”.

Fiquei com a pecha de gay, drogado e prostituído, a faixa de campeão paulista daquele ano e o respeito dos meus colegas de time.

Mas só para constar…

Parafraseando o saudoso Tim Maia…

Não sou gay, drogado e nem prostituído, só minto um pouquinho de vez em quando.rs

 

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Até Que a Morte Nos Separe

Por Victor Mesquita

 

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Comparar a relação entre clube e torcedor a um casamento, a uma religião, atualmente é impossível.  Casamentos acabam, muda-se a religião, mas a torcida pelo seu clube de coração é muito maior que isso.

Hoje estou num momento de tristeza, uma mágoa imensa. Um time com o elenco que o Flamengo tem não pode brigar por baixo, deve olhar para o topo da tabela, seguir a trilha por títulos.

O que estamos vivendo dentro de campo é inaceitável, afinal, já vi times piores e com mais raça. Já vi times que tomaram goleadas e mesmo assim foram superiores ao seu adversário. O atual é caro e tem jogadores de nome, não pode ser desorganizado da forma que é. Não pode ser acomodado!

Devido à crise que estamos vivendo decidi cortar os custos; reduzi meus planos de TV à cabo, internet e tudo mais que poderia impactar em minhas finanças. Eis que olho para minhas faturas e vejo o Sócio-Torcedor.

Ora, logo eu que sempre defendi os planos de Sócio-Torcedor vou me desfazer do meu?

Com o coração partido, ligo para a Central de Atendimento e logo de cara ouço: “uma vez Flamengo, sempre Flamengo…”

Os olhos se enchem de lágrimas; então sou atendido.

Várias coisas passam pela minha cabeça: minha satisfação pela concretização do Plano, minha adesão e contribuição com o clube, dentre outros fatores.

Sinto um aperto no coração, daquele que sentimos quando brigamos com quem amamos ou quando temos que nos despedir, mesmo que por um simples momento.

Não adianta, amigos, não consegui me desfazer de meu plano Sócio-Torcedor.

Além de um simples membro da arquibancada, também contribuo com o Clube que amo. Sou parte ativa de toda sua evolução financeira.

Mesmo chateado com o desempenho em campo acredito que iremos sair dessa e seremos campeões em breve.

Um dia por baixo, outro no topo!

É como dizem: “Flamengo uma vez, sempre”.

Então que seja “até que a morte nos separe”.

 

 

 

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Começou a Festa!

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Neste fim de semana começou o Brasileirão 2016!
E a primeira rodada, se não é suficiente para nos mostrar quem é quem e quem vai ter fichas para trocar até o final do torneio, já nos mostrou o equilíbrio da competição.
Ouso dizer que será a edição mais disputada do torneio em todos os tempos.
E digo disputado pelo equlíbrio entre os times e pelos resultados em campo. Na primeira rodada, tivemos a menor média de gols da história (1,4 gol/jogo). Mesmo tendo duas goleadas (Santa Cruz e Palmeiras), tivemos um festival de 1×0 e três jogos com placar em branco.
Para se ter uma ideia, foram duas goleadas, três 0x0 e os outros cinco jogos com 1×0 no placar. Indício de equilíbrio dentro da competição, ao meu ver.

Acho que é, sim, o campeonato mais disputado do mundo. É só ver que temos 11 gigantes participando e mais outros bons times que podem chegar. Temos ao menos, no papel, 7 candidatos ao título.

Aqui, a chance de um Leicester é nenhuma.

Sou dos que entendem que o formato de 38 rodadas é o mais justo, para definir o campeão do país, mas sou também daqueles que entendem que na nossa cultura, precisamos de finais. As finais param o país, todos ficam de olho e chamam muito mais atenção do público.
Além das finais que ficam na história, com acontecimentos específicos de final.
Alguém lembraria se, em 2002, aquela pedalada do Robinho em cima do Rogério fosse pela 19ª rodada, ao invés de ter sido numa final de Brasileirão (a última, por sinal)?

Para este campeonato, espero uma média tímida, até por termos um gigante de fora, o Vasco e o maior estádio do país fechado por mais da metade do certame.
Mas acredito que a fanática torcida do Santinha (bem-vindo de volta), além das de Palmeiras e Corinthians vão impulsionar a média geral para ser um pouco maior do que nos anos anteriores.

No campo de jogo, espero algumas novidades no campo da tática, com bons treinadores e bons trabalhos se destacando, como já foi feito pelo Tite ano passado, uma vez que o nível técnico dos jogadores se equivalem, numa maneira geral. Acho também que teremos alguns bons valores querendo aparecer, pois é ano olímpico e a rapaziada sub-23 tem uma oportunidade de ouro de brilhar e chegar na Seleção.

Para este campeonato, a CBF já iniciou com as novas regras da FIFA, como por exemplo a saída de bola não precisa mais ser obrigatoriamente para frente. Essas regras só entram em vigor oficial a partir de junho, mas achei prudente já começar o campeonato assim, uma vez que mudanças no meio do torneio podem afetar a lisura da disputa.
Também padronizaram o tamanho dos campos no Brasil e todos terão de jogar nas medidas de 105x68m, deixando de ter a desculpa de um campo ser maior que outro. Um ponto que ainda não se discutiu foi sobre a grama, tamanho do corte e qualidade do material do gramado. Quem sabe em 2016.
Prometo falar sobre as novas regras no próximo post.

Sobre os cariocas, acho que o Fluminense tem um melhor elenco, com algumas peças, principalmente um lateral esquerdo de qualidade, pode disputar o título ou G4, mas deve terminar em 5º.
O Flamengo e o estilo Muricy de destruir o futebol mas apresentar resultados chegar longe, ainda mais com o reforço da saída do Wallace. Deve terminar até o 7º lugar e não vai brigar pela Libertadores, apenas sonhar e ficar espiando.
O Botafogo é que aparenta menor força, mas tem um time arrumado e que sabe das suas limitações e pode acabar conseguindo fugir do rebaixamento com certa facilidade, mas não deve passar da 13ª posição.
E o Vasco? Só ano que vem. Deve voltar. A conferir.

Me cobrem isso em dezembro!

Feliz Brasileirão novo! Te desejo muitos bons jogos, gols bonitos, dribles, jogadas ensaiadas e arranjos táticos!
Não te desejo o título, a não ser que seja Tricolor!
Seguem os jogos, até dezembro. Todos os 380, nas 38 rodadas!

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Leicesters Não Podem Ser Explicados

Por Gabriel Gomes

Leicester

Schmeichel, Simpson, Morgan, Huth e Fuchs, Drinkwater e Kante; Albrighton, Okazaki e Mahrez; Vardy

Milagres não podem ser explicados, é algo irracional. Um fenômeno que transforma um cenário provável em improvável, desafiando o pensamento cético a refletir por um momento em tudo que se acredita. Inclusive na sua fé de não ter fé em nada.

A temporada 2015/2016 do milionário campeonato Inglês acabou neste último final de semana, porém a ficha do que ocorreu, talvez, nunca saberemos realmente dimensionar.

O Leicester (lestər ou léster) foi campeão. Como isso foi acontecer ?

Esquema tático simples, disciplina, marcação, compactação, pressão na saída, transição rápida e excelente ambiente. Tentar explicar com fatos e racionalidade, poderia diminuir este feito. Esse título foi uma afirmação do inexplicável e imponderável, pilares exclusivos e vitais do futebol.

O Leicester desafiou o senso comum ao sugerir ainda no primeiro turno que poderia ganhar o acirrado campeonato. Pois é, estamos falando da segunda liga mais equilibrada do mundo, perdendo apenas para o Brasileirão. Onde você jogará contra times do quilate de Manchester United, Arsenal, Chelsea, Liverpool e Manchester City. Alguém em sã consciência apostaria em um time que brigou para não cair até a última rodada da Premier League do ano passado? Sem craques e estrelas? Treinado por um técnico que acumulava fracassos? Onde as casas de apostas pagariam 5 mil libras para cada libra apostada? Não meu amigo, você não apostaria. Sim, foi um milagre.

O time é formado por jogadores que passearam por clubes da segunda e terceira divisão inglesa e quem deve favores ao futebol (E você deve mais do que pensa), tem o dever de saber quem são esses heróis.

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Kasper Schmeichel, o Principe. Filho de um dos melhores goleiros de todos os tempos (Peter), cresceu com o peso do sobrenome. Começou a carreira no United, mas nunca firmou-se em nenhum clube. Foi em Leicester que descobrimos o verdadeiro potencial escondido nesse paredão.

Danny Simpson, a Pilastra. Lateral moderno de poucas subidas ao ataque, Simpson funcionava como um zagueiro pela extrema direita, liberando as subidas de Kante e Drinkwater para o ataque. Fundamental no esquema de Ranieri.

Wes Morgan, o Xerife.  Zagueiro e capitão, esse jamaicano defendeu o Nottingham Forest por 10 anos até transferir-se para o Leicester em 2012. Morgan é um dos símbolos da raça e da dedicação tática impostas pelo técnico Claudio Ranieri.

Robert Huth, a Cancela. Esse alemão jogou no Chelsea na primeira fase Romam Abramovic e depois sumiu nos bastidores de pequenos times ingleses. Alto, seguro e técnico, Huth ainda contribuiu com 3 gols nessa temporada.

Christian Fuchs, o Ditador. Lateral austríaco com as mesmas características de Simpson, mas que chega melhor ao ataque, Possui mais recursos e colecionou algumas importantes assistências. Ranieri prefere que ele não passe do meio campo e que respeite o esquema. Jogou 34 jogos, das 38 rodadas.

N’golo Kanté, a Formiga. O Leicester apresentou Kante ao mundo, ainda bem. Esse baixinho com a camisa 14, lembrou os melhores momentos de Claude Makelele e fez miséria nesse meio campo. Desarmou, armou, driblou e apresentou um repertório vasto de jogadas que levaram o clube ao título. Kante dificilmente permanece no Leicester. Quem quiser ver Kante em ação é só acompanhar a próxima Eurocopa e sintonizar os jogas da França.

Danny Drinkwater, o Maestro. Sim, beber água é importante mesmo. Existe uma cultura do futebol inglês de um armador mais recuado jogando com a camisa 4. Gerrard é um exemplo mais atual desse jogador. O Leicester tinha seu camisa 4 e como jogou bem Danny nessa liga. O prêmio foi a convocação para a seleção inglesa e vai disputar a vaga no time com Jordan Henderson (Liverpool) e Eric Dier (Tottenham).

Shinji Okazaki, o Imperador. Único reforço nesta temporada, o japonês era a peça central que faltava no esquema. Após alguns anos no futebol alemão, ele trouxe equilíbrio e regularidade ao ataque dos Foxes. 6 gols e varias assistências em 2016.

Marc Albrighton, o Motor. Típico ponteiro inglês com força e disciplina. Jogou praticamente todos os jogos e era normalmente substituído por Ulloa. Não consigo imaginar esse time sem a presença de Albrighton no campo.

Riyad Mahrez, o Talento. Eleito somente o craque do campeonato, esse argelino habilidoso trouxe a malemolência necessária para quebrar as zagas adversárias e lotar o King Power Stadium. Foram 18 gols nessa temporada. Preciso dizer mais alguma coisa?

Jamie Vardy, a Foice. Vice artilheiro do campeonato com 24 gols, jogava a quinta divisão em 2012 e foi comprado por mísero 1 milhão de euros pelo Leicester para reforçar o ataque que jogaria a segunda divisão naquele ano. Vardy hoje já acumula convocações para a seleção inglesa e um gol de letra que ajudou no triunfo do English Team contra a poderosa Alemanha.

Menção honrosa: José Leonardo Ulloa, o Camisa 12.  Esse cara entrava em todos os jogos. Foi aquela figura que incendiava os jogos e contribuía com seus gols. Ulloa, você tem seu lugar assegurado nesse time.

Ano que vem esse milagre jogará a Champions League e o mundo será pequeno para esses jogadores. Obrigado Leicester, quem ama verdadeiramente futebol nunca mais esquecerá esse time.

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Não, Você Não é Obrigada

Por Valdez Gomes

 

não sou obrigada a nada

 

Sete de maio de 1948, início de noite de um sábado nublado. Tomamos a condução de volta pra casa, nos acomodamos nas últimas poltronas. Pela via que trafegávamos, uma charrete barulhenta nos ultrapassou pela direita. Da janela lateral, minha filha sorriu e acenou para o condutor do veículo de tração animal.

À medida que o bonde ia fazendo suas paradas, pessoas de todas caras, classes e tribos adentravam o corredor principal, que, sujo e mal conservado, servia de passarela para os apressados passageiros.

A certa altura, meia dúzia de pessoas sobe. Aparentemente, dois grupos de três pessoas. O primeiro, formado por três mulheres de meia idade, se acomodou à nossa frente, em dois bancos. Elas se entreolhavam e em voz baixa conversavam.

O segundo trio sentou-se nos bancos vizinhos, bem do nosso lado. Eram duas mulheres e um homem, e estes, ao contrário das mulheres de meia idade, falavam e gesticulavam com eloquência e voz de discurso político, aliás justiça seja feita, a moça que aparentava ser mais jovem dos três, apenas assentia – com ar de arrependimento- com a cabeça e o olhar vago, perdido no tempo.

A velha, que mais parecia bisavó da menina, dava conselhos e reforçava o discurso do senhor que ao lado da menina, se enchia de moral dizendo, a todo instante, que a seu lado ela só tinha “a ganhar”. Ainda não era possível entender o que eles discutiam… E antes não tivesse entendido mesmo…

– Você não tem que dar ouvidos ao que aquela mulher diz, ela não é sua amiga. Quer ver seu mal! Se você ficar doente, quem vai cuidar de você? É ela?! Não, é ele que está do seu lado, não é, moço?

No que o outro completava:

– Claro! Comigo você só tem a ganhar! Sou aposentado, tenho minha pensão, mantenho a casa, ponho comida na mesa…

– Olha aí, menina! Amanhã ou depois, se acontece alguma coisa com ele, você fica recebendo a pensão dele. Acha que sua amiga vai te ajudar se você precisar? Pensa bem…

– Eu já falei pra ela, senhora. Eu já vivi muita coisa nessa vida, sei o que é melhor pra ela. Dou conselho todos os dias.

A menina, visivelmente constrangida e até com certa irritação, querendo que o assunto terminasse, apenas dizia que sim.

Mas a velha parecia não ter fim, não estava satisfeita e o idiota dava corda aquela prosa deplorável.

– Há quanto tempo vocês estão casados?

Ele respondeu pelos dois:

– Quatro anos.

– Quantos anos você tem, menina?

– Vinte e nove.

– E o senhor?

– Sessenta e cinco.

– Olha aí, menina. Um homem maduro, vivido, querendo te dar valor, construir família, te dar um lar, pagar suas contas… Não é todo dia que se encontra um homem desses não, né moço?

– Claro que não!

Deu vontade de falar umas verdades para aquela dupla de abutres, mas o bom senso segurou meu ímpeto e reconsiderei minha atitude.

A essa altura, meu estômago que já havia revirado duas vezes, deu a terceira volta e para evitar que regurgitasse ali, virei a cara para o lado oposto e tentei chamar a atenção de minha pequena filha.

Eu quis tapar os olhos, os ouvidos, pô-la para dormir no meu colo.

Minha filha que assistia aquela cena retrógrada e lamentável, não entendia ao certo que se passava e antes que começasse a perceber, saquei meu celular e abri o jogo de caça palavras que ela adora fazer. Felizmente, ela se distraiu jogando.

A sessão do descarrego continuou, para mim já bastava. Então descemos no meio do caminho e tomamos um táxi, aquele ambiente não serve para minha menina. Ela não precisa conhecer a triste história dos tempos dos nossos avós, bisavós, vivenciando experiências como essa.

Os tempos mudaram, ciência e tecnologia evoluíram, mas inacreditavelmente, algumas pessoas insistem em ficar presas em conceitos ultrapassados e (in)cômodos.

Mulher nenhuma merece sofrer, presenciar, compactuar, se submeter à tamanha agressão.

Definitivamente, Não, ela não é e nunca será obrigada!

 

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Malte, Malta, Tomates e Bacalhau

Por Valdez Gomes

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Eram 04h40min da manhã de domingo quando deitei na cama para um sono que me revigorasse de um sábado recheado de atividades. Eu precisava daquelas horas de coma.

Às 10h30min o relógio despertou, mas eu não. Com a mão direita, ainda sonolento, passei a mão na tela do celular derrubando ao chão e enfim desativando o alarme.

Meio dia e meia acordei com um sobressalto. Putz! Era dia das mães e eu não havia comprado o presente para nenhuma delas. Saí da cama, escovei os dentes, tomei uma ducha gelada. Saí do quarto, de fininho, passei pelos fundos e corri até o shopping mais próximo. Voltei para casa com os presentes e as devidas felicitações pela a data.

Almoçamos, e o celular começou a pipocar novamente, dessa vez eram meus amigos querendo saber onde assistiria a final.

Passei a semana inteira convocando a galera para assistir num bar da Tijuca, reduto de todas as torcidas. Mas, eis que na sexta-feira, surge um plano B. Um samba beneficente num condomínio ali no Grajaú.

Convencidos,  alguns amigos me acompanharam, inclusive um tricolor.

Dezesseis horas e cinco minutos, chegamos ao tal condomínio, onde 8pessoas tentavam acompanhar numa teve de 32polegadas, 257 fantasmas e a cinco metros de distância, o jogo que dava mostra do que seria. Um Botafogo a fim de jogo e o Vasco só de tocaia.

Abortamos, momentaneamente, o samba e fomos para a Tijuca. No caminho, pedi ao taxista que ligasse o rádio no jogo (depois eles não entendem por que estamos optando pelo Uber). Ele atendeu meu pedido e na rádio, Alberto Brandão noticiava a prisão de um torcedor vascaíno que mostrara a genitália para algumas torcedoras do Botafogo. Na mesma hora liguei para um amigo que eu sabia que estava nas imediações do Maracanã. Pensei que fosse ele o torcedor detido. Felizmente, ele estava livre e com a genitália devidamente guardada.

Chegando  no bar, escolhemos uma mesa e pedimos a primeira. O jogo era morno, tirando um lance do Vasco e um chute perigosíssimo do Botafogo, nada de relevante havia acontecido.

Fim do primeiro tempo, nas outras finais, a lógica prevalecia. Santos batendo o bravo Audax, Galo vencendo o Coelho, Furacão passando pelo Coxa… E aqui nada de gol.

Veio o segundo tempo, e no intervalo o Vasco sacou o zagueiro Luan, que deu lugar a Rafael Vaz. Nada que fizesse alterar o preço do tomate na feira…

Aos quatro minutos da segunda etapa, Rodrigo cobra uma falta do meio da rua, Jeferson defendeu com certo susto para a torcida alvinegra. No contra-ataque, o preço do tomate subiu… Rafael Vaz, falha ao marcar a bola e não o atacante alvinegro que acerta uma bela cabeçada, estufando a rede vascaína e inflacionando o mercado das frutas e legumes. O que tinha de vascaíno querendo jogar tomate no pobre do Vaz…

Foram cinco minutos de incerteza. O time que sabe jogar contra o Vasco, abria o placar na final. Mas não seria justo perder a invencibilidade, justo no último  jogo. Foi então que o preço do tomate voltou a cair… Madson forja uma falta pela direita, o juiz cai na dele e apita. O resultado foi a consagração do zagueiro que há cinco minutos entrava para a história do jogo como vilão.

No restante da partida, a tônica foi a mesma, Botafogo buscando jogo e o Vasco, mais experiente e dono do resultado, cadenciado as jogadas.

Lá pelas tantas, um flash da final mineira: O Coelho que jogava de branco, fazia o  gol de empate frente ao Galo, que vestia seu tradicional uniforme alvinegro, como o Botafogo. Na mesa ao lado, um incauto vascaíno grito Gol!!!! Sozinho… Tirando gargalhadas dos espectadores das outras mesas.

Fim do jogo. Em meio aos gritos de Casaca, É Campeão, 6litros de cerveja, fotografias, postagens e muitas bravatas, pedimos a conta e fomos comemorar o título, como todo bom carioca, no samba, tomado por vascaínos e alguns botafoguenses. Que confraternizavam em paz depois de um belo jogo.

Grande abraço aos vascaínos, parabéns Botafogo!

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Aluga-se

Por Alan Parada

inferno

Ano olímpico. A cidade já se prepara há tempos para o evento. Mas agora, como de costume, começa a correria para aprontar e maquiar tudo para os jogos, já que faltam menos de 100 dias para o início das Olimpíadas.

A chama olímpica já passeia pelo país.

E os times de futebol da cidade olímpica (ao menos 3 deles) aparentam só terem percebido o problema de ter os jogos por essas bandas há pouco tempo.

Talvez no início do ano, e não em 2009, quando ganhamos o direito de sediar as competições.

Não teremos o nosso principal palco e mais famoso estádio do Mundo (Maracanã) e, por obviedade, também não estará disponível o “Estádio Olímpico”.

Ora, amigos. Todos já sabiam disso, os estádios entrariam em reformas, que atrasariam e que tirariam a possibilidade de jogar no Maraca ou no Engenhão por um tempo. A gente já passou por algumas obras no Maior do Mundo que atrasaram o cronograma. A construção do Engenhão atrasou. E essa absurda reforma da cobertura, que também atrasou nos mostrava que íamos ter problemas para acomodar nossos times antes dos Jogos Olímpicos.

Aparentemente, só as diretorias de Flamengo, Fluminense e Botafogo não viram isso e deixaram tudo para a última hora, cada uma com a sua solução.

A do Fluminense primeiro decidiu por Volta Redonda. Mas como lá pelos lados das Laranjeiras, a Diretoria não tem o menor problema de mudar de lado e de opinião, viu que não seria viável usar o aprazível, porém distante e frio Estádio da Cidadania para mandar seus jogos no BR16.

Acabou mudando e fazendo um acordo com o America, onde irá gastar entre setecentos mil e um milhão de Reais em reformas no estádio de Edson Passos, tornando-o viável para receber jogos do Brasileirão.

O Botafogo fez de forma parecida, porém os entraves foram outros. O time da Estrela Solitária possui um contrato ainda ativo com a Prefeitura de Niterói para utilização do Estádio Caio Martins. Porém o mesmo precisa de muitas reformas e a Prefeitura local não liberou o projeto, fazendo com que o Alvinegro acertasse com a Portuguesa a utilização do Estádio Luso Brasileiro. Dentre os itens da reforma estão a construção de 15 mil assentos e um novo gramado para o local.

O Flamengo é que ainda não se mexeu. Acredita que a força da sua torcida, a maior do país, irá lhe dar guarida em qualquer lugar que vá jogar. Isso é uma realidade. Onde quer que vá jogar, o Flamengo terá seus torcedores em número expressivo.

A questão é outra. O desempenho dos jogadores com tantas viagens e pouco descanso. O Flamengo é do Rio e seus funcionários moram na cidade. Usar Brasília, Juiz de Fora, Cariacica ou Manaus como casa é fazer com que todos os envolvidos no jogo pelo clube viagem ao menos na véspera do jogo e voltem no dia seguinte.

Num ambiente de competição e jogos a cada 3 dias, isso pode ser um divisor de águas entre ser competitivo e ser só mais um.

E aí, pode entrar um precedente perigoso. Será que a torcida candanga irá lotar o Mané Garrincha com o time tendo atuações fracas, contra adversários de meio de tabela e o Rubro-Negro brigando duramente pela honrosa 13ª posição no campeonato?

Os dirigentes precisam lembrar que não temos a cultura de lotar estádios no país, exceto em momentos decisivos dos pontos corridos ou em mata-mata, nas fases mais agudas e ficar num compasso de espera pode ser um tiro no pé, que talvez traga prejuízos irreparáveis, muito mais pelos aspectos técnicos e competitivos do que financeiros.

Em minha opinião a decisão de Flu e Bota foi acertada e, sinceramente, espero que mantenham as parcerias por mais tempo, tornando os estádios menores em caldeirões, tal qual o Atlético-MG faz com o Independência (que é do América-MG) e usem o Maracanã ou o Engenhão em jogos que tenham maior apelo e finais, assim como o Vasco já faz por aqui e o Galo faz lá por BH, com o Mineirão.

Não custa lembrar que a ascensão do Galo no cenário nacional e continental passa, obrigatoriamente, pelo Horto e por toda a pressão que um estádio para 19 mil pessoas faz.

Apenas para ilustrar, o Maracanã, com 13 mil pessoas, é considerado vazio, frio. Não dá medo e pressão ao adversário. Ainda mais nessa nova nomenclatura, onde as torcidas ficam concentradas atrás de um gol, com o outro lado entregue às moscas.

Agora, imagine Edson Passos ou o Luso Brasileiro, que vão comportar 16 e 19 mil pessoas, respectivamente. Um público de 13 mil terá quase lotação máxima, o formato do estádio ainda favorece a pressão ao adversário e o canto/grito de 13 mil pode soar mais forte do que até de 30 mil, num Maracanã, que ainda cabem 80 mil.

Futebol é guerra e o estádio é o campo de batalha dos times. Tornar o seu campo hostil ao adversário passa pela pressão que ele sofre ao estar lá. Ter um estádio considerado um “Caldeirão” é uma vantagem. Vide os exemplos acima de Vasco e Galo. Lembro, ainda, da Arena da Baixada, antes da reforma, onde todos diziam que era muito complicado de jogar lá.

Outro exemplo disso é o próprio São Paulo. De quase imbatível em seus domínios “pela Libertadores, contra o River Plate” para frio e sem pressão numa “14ª rodada do Brasileirão, contra a Chapecoense”. É o mesmo Morumbi. Um com 65 mil pessoas e o outro com 11 mil.

No único campeonato do Mundo onde ao menos 10 times entram como postulantes ao título, ter o seu próprio “Campo de Guerra” e não um “Campo de Jogo” pode fazer a diferença entre jogar em março do ano seguinte a Libertadores no caldeirão ou a Copa do Brasil em qualquer lugar. Pode ser a diferença entre “Caiu no Horto, tá morto” e o “Belo mosaico cinza que a torcida do Cruzeiro fez”.

 

E segue o jogo! Com pressão, caldeirão e estádios cheios! Sejam eles pequenos ou grandes!

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